quinta-feira, 28 de junho de 2012

A natureza em movimento - Sobre a Cúpula dos Povos



Somos a própria natureza, por isso não aceitamos sua destruição!”




De todos os lugares do mundo foram chegando pessoas de diferentes povos e línguas. Todos e todas com um mesmo sonho e utopia: colaborar para a construção de outra sociedade, outro mundo marcado por mais respeito e cuidado para com toda criação, nas suas diferentes formas.

O Rio de Janeiro parece que ficou pequeno para tanta gente que se reuniu entre os dias 15 a 23 de junho. De um lado, as forças poderosas, os governantes das nações que projetaram (ou não) linhas de ação tendo em vista a “salvação” do planeta Terra. Até o momento, sabe-se que as conclusões apontam para a chamada “economia verde”, uma forma mascarada de justificar as ações do capitalismo mundial, que continua, de forma desenfreada, a manipular e destruir todas as fontes de recursos naturais, oprimindo e dizimando povos, sem nenhum escrúpulo. Os avanços desse lado são poucos, ou melhor, se existem favorecem ainda mais a progressiva onda do consumismo e da busca por lucro.

De outro lado, a Cúpula dos Povos, uma espécie de Fórum Social Mundial organizado de uma forma diferente. Pareceu mais uma planície, pois na “cúpula” mesmo estavam outros grupos decidindo os rumos da humanidade. E esta planície foi palco fértil de uma diversidade grande de organizações mundiais, entidades, movimentos da sociedade civil e personalidades que deram um “basta” aos grandes projetos que solapam a vida, como a hidrelétrica de Belo Monte, no Brasil, e outras como as do Chile, do Peru, dentre outros tantos projetos.







Em todas as tendas, distribuídas pelo Aterro do Flamengo, lugar de uma paisagem esplêndida e de uma beleza impar, viam-se grupos organizados debatendo e apresentando propostas sobre a questão das barragens, da justiça social, dos direitos humanos, dos desastres sócio-ambientais, das mulheres e crianças, dos quilombolas, dos catadores de material reciclável, da Via Campesina, do MST, dos povos indígenas...
Os povos indígenas deram um show à parte. A tenda onde se concentraram e realizaram o IX Acampamento Terra Livre, reuniu mais de dois mil indígenas vindos de todas as partes do Brasil e da AL. Seus debates e marchas foram diários, sempre acompanhados por entidades de apoio. Os Pataxó Hã-Hã-Hãe sensibilizaram a todos/as com seus cocares pintados de uma amarelo vivo, com suas danças, cantos ritmados e os rituais sagrados.

Um dos momentos marcantes se deu no dia 19, na praia do Flamengo, onde nos reunimos mais de mil pessoas para formar um desenho humano – um globo com um indígena de braço erguido em direção ao sol, e a inscrição “Rios para a Vida”. Todos sentados nas areias, gritando palavras de ordem... Sentia-se um mesmo espírito inundando a todos, com um mesmo grito que teimava em não ficar abafado: precisamos lutar juntos para que o planeta e os povos todos tenham dignidade!

É o movimento da natureza mobilizando milhares de pessoas... faz recordar uma bonita canção do Roberto Carlos: Por isso uma força me leva a cantar, por isso essa força estranha no ar. Por isso é que eu canto, não posso parar, por isso essa voz tamanha...

Outros momentos marcantes foram as grandes marchas pelas avenidas centrais do Rio e as tentativas de sensibilizar a “cúpula” reunida na Rio+20. Estas foram diárias e insistentes e reuniram milhares de pessoas, com faixas, bandeiras e muita animação!

Foi muito bom também poder se encontrar com várias de nossas irmãs das diferentes províncias e religiosos/as da família franciscana.

E continua a canção: Aquele que conhece o jogo do fogo das coisas que são, é o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão... Sim, o sol carioca foi ardente e acolhedor. O ficou colado às estradas e ao chão sagrado que acolheu tamanha diversidade. O fogo das coisas, das lutas por mais vida e pela irmandade universal ganhou força e seguirá acompanhando o movimento do mundo!

Beatriz C. Maestri, PICM

quinta-feira, 21 de junho de 2012

CARTA DO RIO DE JANEIRO

CÚPULA DOS POVOS POR JUSTIÇA SOCIAL E AMBIENTAL

CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DA VIDA, EM DEFESA DOS BENS COMUNS

DECLARAÇÃO FINAL DO IX ACAMPAMENTO TERRA LIVRE – BOM VIVER/VIDA PLENA

Rio de Janeiro, Brasil, 15 a 22 de junho de 2012


Nós, mais de 1.800 lideranças, representantes de povos e organizações indígenas presentes, APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (COIAB, APOINME, ARPINSUL, ARPINSUDESTE, povos indígenas do Mato Grosso do Sul e ATY GUASU), COICA – Coordenadora de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica, CAOI – Coordenadora Andina de Organizações Indígenas, CICA – Conselho Indígena da América Central, e CCNAGUA – Conselho Continental da Nação Guarani e representantes de outras partes do mundo, nos reunimos no IX Acampamento Terra Livre, por ocasião da Cúpula dos Povos, encontro paralelo de organizações e movimentos sociais, face à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).

Depois de intensos debates e discussões realizados no período de 15 a 22 de Junho sobre os distintos problemas que nos afetam, como expressão da violação dos direitos fundamentais e coletivos de nossos povos, vimos em uma só voz expressar perante os governos, corporações e a sociedade como um todo o nosso grito de indignação e repúdio frente às graves crises que se abatem sobre todo o planeta e a humanidade (crises financeira, ambiental, energética, alimentar e social), em decorrência do modelo neodesenvolvimentista e depredador que aprofunda o processo de mercantilização e financeirização da vida e da Mãe Natureza.

É graças à nossa capacidade de resistência que mantemos vivos os nossos povos e o nosso rico, milenar e complexo sistema de conhecimento e experiência de vida que garante a existência, na atualidade, da tão propagada biodiversidade brasileira, o que justifica ser o Brasil o anfitrião de duas grandes conferências mundiais sobre meio ambiente. Portanto, o Acampamento Terra Livre é de fundamental importância na Cúpula dos Povos, o espaço que nos possibilita refletir, partilhar e construir alianças com outros povos, organizações e movimentos sociais do Brasil e do mundo, que assim como nós, acreditam em outras formas de viver que não a imposta pelo modelo desenvolvimentista capitalista e neoliberal.

Defendemos formas de vidas plurais e autônomas, inspiradas pelo modelo do Bom Viver/Vida Plena, onde a Mãe Terra é respeitada e cuidada, onde os seres humanos representam apenas mais uma espécie entre todas as demais que compõem a pluridiversidade do planeta. Nesse modelo, não há espaço para o chamado capitalismo verde, nem para suas novas formas de apropriação de nossa biodiversidade e de nossos conhecimentos tradicionais associados.

Considerando a relevante importância da Cúpula dos Povos, elaboramos esta declaração, fazendo constar nela os principais problemas que hoje nos afetam, mas principalmente indicando formas de superação que apontam para o estabelecimento de novas relações entre os Estados e os povos indígenas, tendo em vista a construção de um novo projeto de sociedade.

Repúdios

Em acordo com as discussões na Cúpula dos Povos, repudiamos as causas estruturais e as falsas soluções para as crises que se abatem sobre nosso planeta, inclusive:

• Repudiamos a impunidade e a violência, a prisão e o assassinato de lideranças indígenas (no Brasil, caso Kayowá-Guarani, Argentina, Bolívia, Guatemala e Paraguai, entre outros).

• Repudiamos os grandes empreendimentos em territórios indígenas, como as barragens – Belo Monte, Jirau e outras; transposição do Rio S. Francisco; usinas nucleares; Canal do Sertão; portos; ferrovias nacionais e transnacionais, produtoras de biocombustíveis, a estrada no território TIPNIS na Bolívia, e empreendimentos mineradores por toda a América Latina).

• Repudiamos a ação de instituições financeiras como o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que financia grandes empreendimentos com dinheiro público, mas não respeita o direito à consulta as populações afetadas, incluindo 400 regiões no Brasil, e em todos os países em que atuam, inclusive na América Latina e África.

• Repudiamos os contratos de REDD e créditos de carbono, falsas soluções que não resolvem os problemas ambientais e procuram mercantilizar a natureza e ignoram os conhecimentos tradicionais e a sabedoria milenar de nossos povos.

• Repudiamos a diminuição dos territórios indígenas.

• Repudiamos todas as iniciativas legislativas que visem submeter os direitos indígenas ao grande capital, através da flexibilização ou descaracterização da legislação indigenista e ambiental em vários países, como a PEC 215 e o Código Florestal no congresso brasileiro e as alterações propostas no Equador.

• Repudiamos a repressão sofrida pelos parentes bolivianos da IX Marcha pela "Defesa da Vida e Dignidade, Territórios Indígenas, Recursos Naturais, Biodiversidade, Meio Ambiente, e Áreas Protegidas, pelo Cumprimento da CPE (Constituição Política do Estado) e o respeito a Democracia”. Manifestamos nossa solidariedade aos parentes assassinados e presos nesta ação repressiva do estado boliviano.

• Repudiamos a atuação de Marco Terena que se apresenta como líder indígena do Brasil e representante dos nossos povos em espaços internacionais, visto que ele não é reconhecido como legítimo representante do povo Terena, como clamado pelas lideranças deste povo presentes no IX Acampamento Terra Livre.

Propostas

• Clamamos pela proteção dos direitos territoriais indígenas. No Brasil, mais de 60% das terras indígenas não foram demarcadas e homologadas. Reivindicamos o reconhecimento e demarcação imediatos das terras indígenas, inclusive com políticas de fortalecimento das áreas demarcadas, incluindo desintrusão dos fazendeiros e outros invasores dos territórios.

• Reivindicamos o fim da impunidade dos assassinos e perseguidores das lideranças indígenas. Lideranças indígenas, mulheres e homens, são assassinados, e os criminosos estão soltos e não são tomadas providências. Reivindicamos que sejam julgados e punidos os mandantes e executores de crimes (assassinatos, esbulho, estupros, torturas) cometidos contra os nossos povos e comunidades.

• Reivindicamos o fim da repressão e criminalização das lideranças indígenas, como dos parentes que se manifestam contra a construção de Belo Monte. Que as lutas dos nossos povos pelos seus direitos territoriais não sejam criminalizadas por agentes do poder público que deveriam exercer a função de proteger e zelar pelos direitos indígenas.

• Exigimos a garantia do direito à consulta e consentimento livre, prévio e informado, de cada povo indígena, em respeito à Convenção 169 da OIT – Organização Internacional do Trabalho, de acordo com a especificidade de cada povo, seguindo rigorosamente os princípios da boa-fé e do caráter vinculante desta convenção. Precisamos que seja respeitado e fortalecido o tecido institucional de cada um de nossos povos, para dispor de mecanismos próprios de deliberação e representação capazes de participar do processo de consultas com a frente estatal.

• Clamamos pela ampliação dos territórios indígenas.

• Clamamos pelo monitoramento transparente e independente das bacias hidrográficas.

• Clamamos pelo reconhecimento e fortalecimento do papel dos indígenas na proteção dos biomas.

• Pedimos prioridade para demarcação das terras dos povos sem assistência e acampados em situações precárias, como margens de rio, beira de estradas e áreas sem infraestrutura sanitária. Apenas no Brasil, existem centenas de acampamentos indígenas nesta situação. 40% da população destes acampamentos são crianças.

• Clamamos pela melhora das condições de saúde aos povos indígenas, como por exemplo, no Brasil, pelo aumento do orçamento da SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena, a implementação da autonomia financeira, administrativa e política dos DSEIs – Distritos Sanitários Especiais Indígenas, e a garantia dos direitos dos indígenas com deficiência.

• Queremos uma Educação Escolar Indígena que respeite a diversidade de cada povo e cultura, com tratamento específico e diferenciado a cada língua, costumes e tradições.

• Exigimos que se tornem efetivas as políticas dos estados para garantia da educação escolar indígena, tal como os territórios etnoeducacionais no Brasil.

• Queremos uma educação escolar indígena com componentes de educação ambiental, que promova a proteção do meio ambiente e a sustentabilidade de nossos territórios.

• Exigimos condições para o desenvolvimento a partir das tradições e formas milenares de produção dos nossos povos.

Finalmente, não são as falsas soluções propostas pelos governos e pela chamada economia verde que irão saldar as dívidas dos Estados para com os nossos povos.

Reiteramos nosso compromisso pela unidade dos povos indígenas como demonstrado em nossa aliança desde nossas comunidades, povos, organizações, o conclave indígena e outros.

A SALVAÇÃO DO PLANETA ESTÁ NA SABEDORIA ANCESTRAL DOS POVOS INDÍGENAS

RIO DE JANEIRO, 20 DE JUNHO DE 2012

APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, COICA – Coordenadora de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica, CAOI – Coordenadora Andina de Organizações Indígenas, CICA – Conselho Indígena da América Central, e CCNAGUA – Conselho Continental da Nação Guarani



quarta-feira, 20 de junho de 2012

eSpAçO dE dIsCuSsÃo - Tecendo movimentos Sociais e Economia Solidária


Olá, companheir@s  de caminhada

Paz e Todo Bem.

Conforme de conhecimento, a Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, 
no decorrer dos anos 2010 e 2011,  promoveu o “Curso de Formação Missionária online”. 
A metodologia adotada  foi de troca de saberes e experiências, formando grupos específicos para debates virtuais.

O seminário conclusivo decidiu alguns encaminhamentos práticos, entre eles a proposta de continuidade do espaço virtual, com a finalidade de TECER saberes e sabores, a partir das experiências concretas das pessoas que militam em Movimentos Sociais e Economia Solidária. 

Por este motivo, convidamos você a fazer parte deste grupo. 
Acompanhe o Movimento do Mundo através deste mais novo espaço de discussão e troca de saberes e sabores.

Acesse o site da Cicaf ou Bancopiree clique no link Tecendo movimentos Sociais e Economia Solidária

e PARTICIPE DESTA CIRANDA DE CUIDADO DA VIDA.
ESTAMOS CHEGANDO COM NOVO VISUAL, CONFIRA!!!
E assim vamos TECER IDEIAS.
Abraços, Sandra Leoni

Chamados pelo NOME, no fluxo da vida




“João é o seu nome” (Lc. 1,63)

Esta frase é uma mensagem da gratuidade e bondade de Deus. João é um nome muito especial. Nele são guardadas muitas e importantes lembranças. De fato, o nome “Yohanan” significa “Deus se mostrou misericordioso”. João é um dom gratuito de Deus, pois está além dos cálculos humanos; por isso, pertence plenamente a Deus. Nem sempre Deus elege o tradicional, o velho costume, o caminho trilhado. Agora nasce um tempo novo: o Espírito vai por caminhos novos, que nem sempre são fáceis de conhecer.
É Deus quem toma a iniciativa e chama pelo nome. O “nome” encerra toda a verdade da pessoa e, ao mesmo tempo, todo o mistério da sua relação direta com Deus.
Na Bíblia, o nome é algo dinâmico, é um programa de vida. A troca de nome implica uma missão que deve ser realizada pela pessoa (Gen, 17,5; Jo. 1,42).
Um nome novo: uma aventura que começa; uma história a ser construída.
O nome é ponto de partida e de chegada na relação com Deus.

Quando Deus nos chama à vida, Ele não revela logo tudo o que quer: apenas pronuncia o nome.
A Palavra de Deus pronunciada sobre cada um de nós revela a nossa verdadeira e plena identidade.
É preciso crescer na consciência de que o próprio nome tem uma história e manifesta uma identidade única, irrepetível, original. O nome próprio está relacionado com nossa realidade pessoal, responsável, criativa e livre. Essa identidade vai sendo elaborada ao longo de nossa história pessoal com os avanços e recuos, vitórias e fracassos, as alegrias e os sofrimentos... que vão pontilhando nossa existência e formando esse ser único  que somos nós.
Cada um de nós descobre ser chamado em nossa vida. O fato de sentir, em nossos desejos, que estamos insatisfeitos, cultivar aspirações sempre novas, procurar entender quem somos, o que devemos fazer, o que nos torna realmente felizes..., no fundo é um contínuo chamado pelo nome.
Deus pede a cada mergulhar no “fluxo da vida”, evitando deixar que uma só das Suas palavras, do Seu chamado, possa cair no vazio.
A dinâmica da relação com Deus passa através da minha história, das minhas alegrias, dos meus sofri-mentos, e das minhas perguntas: “Quem sou eu?”, “O que quereis de mim?”.
Não posso permanecer indiferente. É preciso ter coragem de perguntar: “Quem me chama?” e “a quê me chama?”; pedir ajuda para conseguir entender, reconhecer, descobrir o próprio nome.
Deus, no momento em que me chama pelo nome, me revela a mim mesmo.
Assim, meu nome se torna a minha própria vida, o meu patrimônio existencial, a minha realidade.

A palavra “nome”, na linguagem bíblica, significa aquilo que torna a pessoa única.  O nome é um sím-bolo que exprime a individualidade de cada um. No nome está toda a pessoa. O nome é a pessoa.
Interessar-se por conhecer o nome é interessar-se pela pessoa; é o primeiro passo para o encontro pessoal; é pelo nome que nos identificamos.
Os orientais, por exemplo, não dizem o seu nome a qualquer um. Só aos amigos, aos seus mais íntimos.
Conhecer o nome de alguém, para eles, é conhecer a pessoa toda. Fazer saber o seu nome é prova de amizade.
Cada um de nós tem um nome, que é próprio, não comum. É de uma pessoa. Ele expressa o nosso ser,  indica alguma coisa a realizar, uma vocação, um apêlo a responder.. Somos chamados. É isso que signi-fica ter um nome.
Nós realizaremos nossa vocação, sendo nós mesmos, com nosso modo de ser, nossas possibilidades, nossa originalidade. Ninguém a realizará por nós. Ser fiel ao nome é ser fiel à própria vocação.

Um nome, quando ouvido pela primeira vez, é apenas um “nome”. Mas, na medida em que se convive com a pessoa, o nome se torna a essência da pessoa, revela algo de essencial. No nome se espelha a experiência de uma força e de uma vontade. Pronunciado o nome, evoca-se a profundidade, o ser.
O nome é referência reveladora da verdade da pessoa. É a porta de entrada de cada história particular.
Nos nossos encontros, no primeiro dia, carregamos todos um crachá com o nome. Nós chegamos e procuramos a pessoa pelo nome escrito no crachá, até encontrá-la. Na hora em que a encontramos, nós não olhamos mais o crachá, mas levantamos a cabeça e olhamos o rosto. E o nome que, antes, era só um nome, torna-se agora a janela de um rosto, a revelação de uma pessoa. Na medida em que se aprofunda a convivência com a pessoa, maiores serão o significado e a densidade do nome dela.
Quando um nome é pronunciado, ou invocado, a “energia potencial” existente é transformada em “energia vital”. Basta dizer o nome e uma realidade pessoal se coloca diante de todos.
nomes que geram recordações, saudades, reavivam sentimentos, atualizam propósitos, despertam compromissos. Esta é a razão quando se diz que alguém “tem nome”, ou seja, uma pessoa “de nome”.
Por outro lado, “sujar o nome” significa prejudicar o caminho de alguém, com maledicências e mentiras. Zelar pelo próprio nome é abrir caminhos para encontros que efetivem a experiência de pertença e de sólida referência a Deus. Honrar o próprio nome é tornar-se servidor, pela conduta, da experiência da fé.

É preciso cair na conta de que tenho um nome, sou pessoa única e com características muito particulares. Eu tenho uma dignidade imensa: sou imagem e semelhança de Deus.
Com essas características eu devo me colocar a serviço dos outros. Meu nome secreto, Deus o conhece!... “Eu darei... um nome novo, que ninguém conhece senão aquele que o recebe” (Apc. 2,17).
Deus sabe o meu nome: “Eu te gravei na palma de minha mão” (Is. 49,16).
Deus nunca pode olhar Sua mão sem ver o meu nome. E o meu nome quer dizer: “EU mesmo”
Deus garante a minha identidade: posso ser eu mesmo.
Deus investiu-se a Si mesmo em cada um de nós. Colocou-se no coração de cada um de nós.
Ter recebido um nome de Deus significa tomar um lugar na história, uma missão a cumprir.

Texto bíblicoLc. 1,57-66

Retorna ao preciso momento em que Deus-Pai te criou e escuta, o nome que Ele pronunciou sobre ti. Como te chamou neste momento?
Agora, sabendo o que Deus-Pai pensa de ti, poderias descobrir o teu nome? a tua identidade?
                Quais os teus “sinais digitais divinos”?
Que resposta darias de ti mesmo, agora, se um repórter te entrevistasse e te perguntasse: “Quem és tu?”
O que colocarias na tua carteira de identidade que te diferenciasse de todas as outras pessoas?
Quais seriam os teus sinais digitais mais originais?
                    Ser “João” é ser graça amorosa de Deus na vida e na história de tantas pessoas.


domingo, 17 de junho de 2012

A CÚPULA DOS POVOS E A SUSTENTABILIDADE DA VIDA

ATITUDES CRÍTICAS E PRO-ATIVAS FACE À RIO+20

Creio que se impõem três atitudes que precisamos desenvolver diante da Rio+20.

A primeira é conscientizar os tomadores de decisões e toda a humanidade dos riscos a que estão submetidos o sistema-Terra, o sistema-vida e o sistema-civilização. As guerras atuais, o medo do terrorismo e a crise econômico-financeira no coração dos países centrais estão nos fazendo esquecer a urgência da crise ecológica generalizada. Os seres humanos e o mundo natural estão numa perigosa rota de colisão. De nada vale garantir um desenvolvimento sustentável e verde se não garantirmos primeiramente a sustentabilidade do planeta vivo e de nossa civilização. Esta conscientização deve ser feita em todos os níveis, da escola primária à universidade, da família à fábrica, do campo à cidade.

A segunda atitude tem a ver com um deslocamento e uma implicação que importa operar. Urge deslocar a discussão do tema do desenvolvimento para o tema da sustentabilidade. Se ficarmos no desenvolvimento nos enredamos nas malhas de sua lógica que é crescer mais e mais para oferecer mais e mais produtos de consumo para o enriquecimento de poucos à custa da super-exploração da natureza e da marginalização da maioria da humanidade. A pesquisa séria do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH) de 2011 revelou a tremenda concentração de riqueza e de poder em pouquíssimas mãos: são 737 corporações que controlam 80% do sistema corporativo mundial, sendo que um núcleo duro de 147 controla 40% de todas as corporações, a maioria financeiras. Junto com este poder econômico segue o poder político (influencia os rumos de um pais) e o poder ideológico (impõe pensamentos e comportamentos).

A pegada ecológica da Terra revelou que esta já ultrapassou em 30% seus limites físicos. Forçá-los é obrigá-la a defender-se. E o faz com tsunamis, enchentes, secas, eventos extremos, terremotos e o aquecimento global. E também com as crises econômico-financeiras que se incluem no sistema-Terra viva. O tipo de desenvolvimento vigente é insustentável. Vãos são os adjetivos que lhe acrescentemos: humano, verde, responsável e outros. Levá-lo avante a qualquer custo, como ainda propõe o texto-base da ONU, nos aproxima do abismo sem retorno.

Deslocar-se para o tema da sustentabilidade significa criar mecanismos e iniciativas que garantam a vitalidade da Terra, a continuidade da vida, o atendimento das necessidades humanas das presentes e futuras gerações, de toda a comunidade de vida e a garantia de que podemos preservar nossa civilização. Essa compreensão de sustentabilidade é mais vasta do que aquela do desenvolvimento simples e duro.

Para alcançar tal propósito, se faz mister um novo olhar sobre a Terra, um re-encantamento do mundo e um novo sonho. Isto significa inaugurar um novo paradigma. Se antes, o paradigma era de conquista e de expansão, agora, devido aos altos riscos que corremos, deverá ser de cuidado e de responsabilidade global. Precisamos incorporar a visão da Carta da Terra que propõe tais atitudes no quadro de uma visão holística do universo e da Terra. Ela vê o nosso planeta como vivo, com uma comunidade de vida única. É fruto de um vasto processo de evolução que já dura 13,7 bilhões de anos. O ser humano comparece como expressão avançada de sua complexidade e interiorização. Este tem a missão de cuidar e de preservar a sustentabilidade da natureza e de seus seres.

Esta visão só será efetiva se for mais que um deslocamento de visões. A ciência não produz sabedoria mas só informações. Quer dizer, não oferece uma visão global e integradora da realidade interior e exterior (sabedoria) que motive para a transformação. Por isso deve vir acompanhada da implicação de uma emoção fundamental. Importa fazer uma leitura emocional dos dados científicos, porque é a emoção, a paixão, a razão sensível e cordial que nos moverão a ação. Não basta tomar conhecimento. Precisamos nos conscientizar, no sentido de Paulo Freire, nos munir de indignação e de compaixão e por mãos à obra.

Portanto, junto com a razão intelectual, indispensável, que predominou por séculos, cabe resgatar a razão sensível e emocional que fora colocada à margem. Ela é o nicho da ética e dos valores. Faz-nos sentir a dor da Terra, a paixão dos pobres e o apelo da consciência para superarmos estas situações com uma outra forma de produzir, de distribuir e de consumir.

A terceira atitude é de trabalho crítico e criativo dentro do sistema. Já se disse: os velhos deuses (a conquista e dominação) não acabam de morrer e os novos (cuidado e responsabilidade) não acabam de nascer. Somos obrigados a viver num entre-tempo: com um pé dentro do velho sistema, trabalhar e ganhar nossa vida no âmbito das possibilidades que nos são oferecidas; e com outro pé dentro do novo que está despontando por todos os lados e que assumimos como nosso. Há muitas iniciativas que podem ser implementadas e que apontam para o novo.

Fundamentalmente importa recompor o contrato natural. A Terra é nossa grande Mãe, como o aprovou a ONU a 22 de abril de 2009. Ela nos dá tudo o que precisamos para viver. A contrapartida de nossa parte seria o agradecimento na forma de cuidado, veneração e respeito. Hoje precisamos reaprender a respeitar o todo da Terra, os ecossistemas e cada ser da natureza, pois possuem valor intrínseco independentemente do uso que fizermos dele como o enfatiza a Carta da Terra. Essa atitude é quase inexistente nas práticas produtivas e nos comportamentos humanos. Mas podemos ressuscitar esse sentido de amor, de autolimitação de nossa voracidade e de respeito a tudo o que existe e vive. Ele diminuiria a agressão à natureza e faria de nossas atitudes mais eco-amigáveis.

Defender a dignidade e os direitos da Terra, os direitos da natureza, dos animais, da flora e da fauna, pois todos formamos a grande comunidade terrenal.

Apoiar o movimento internacional por um pacto social mundial ao redor daquilo que pode unir a todos, pois todos dependem dele: a água, com um bem comum natural, vital e insubstituível. Criar uma cultura da água, não desperdiçá-la (só 0,7% dela é acessível ao uso humano) e torná-la um direito inalienável para todos os seres humanos e para a comunidade de vida.

Reforçar a agroecologia, a agricultura familiar, a permacultura, as ecovilas, a micro e pequena empresa de alimentos, livres de pesticidas e de transgênicos.

Buscar de forma crescente energias alternativas às fósseis, como a hidrelétrica, a eólica, a solar, a de biomassa e outras.

Insistir no reconhecimento dos bens comuns da Terra e da humanidade. Entre esses se contam o ar, a atmosfera, a água, os rios, os oceanos os lagos, os aquíferos, a biodiversidade, as sementes, os parques naturais, as muitas línguas, as paisagens, a memória, o conhecimento, a internet, as informações genéticas e outros.

O mais importante de tudo, no entanto, é formar uma coalizão de forças com o maior número possível de grupos, movimentos, igrejas e instituições ao redor de valores e princípios coletivamente partilhados, como os expressos na Carta da Terra, nas Metas do Milênio, na Declaração dos Direitos da Mãe Terra e no ideal do Bem Viver das culturas originárias das Américas.

Por fim, precisamos estar conscientes de que o tempo da abundância material acabou, feita à custa do desrespeito dos limites do planeta e na falta de solidariedade e de piedade para com as vítimas de um tipo de desenvolvimento predatório, individualista e hostil à vida. O crescimento econômico não pode ser um fim em si mesmo. Está a serviço do pleno desenvolvimento do ser humano, de suas potencialidades intelectuais, morais e espirituais. A economia verde inclusiva, a proposta brasileira para a Rio+20, não muda a natureza do desenvolvimento vigente porque não questiona a relação para com a natureza, o modo de produção, o nível de consumo dos cidadãos e as grandes desigualdades sociais. Um crescimento ilimitado não é suportado por um planeta limitado. Temos que mudar de rota, de mente e de coração. Caso contrário, o destino dos dinossauros poderá ser o nosso destino.

Finalmente, meu sentimento do mundo me diz que não estamos diante de uma tragédia anunciada. Mas diante de uma gravíssima e generalizada crise de civilização. Contém muitos riscos, mas, se quisermos, serão evitáveis. Pode significar a dor de parto de um novo paradigma e o sacrifício a ser pago para um salto de qualidade rumo a uma civilização mais reverente da Terra, mais respeitosa da vida, mais amiga dos seres humanos e mais irmanada com todos os demais seres da natureza.

Leonardo Boff - Teólogo, filósofo, da Comissão Iniciativa da Carta da Terra, autor de Proteger a Terra e cuidar da vida: como evitar o fim do mundo, Record 2011.













sábado, 16 de junho de 2012

Encontro Micro-Regional de Simpatizantes de SP

SONHO COMPARTILHADO 


 Com muita alegria, as irmãs foram acolhendo a cada simpatizante que foi chegando à casa da Vila Matilde para compartilhar vida e sonhos. Um bom grupo veio lá da zona sul, do Jardim Capela, onde participam com as irmãs nos trabalhos em projetos de saúde alternativa, artesanato e acupuntura. Outro grupo, também cheio de animação, veio da região da Aclimação, Vila Matilde e do Embu, e atuam com saúde alternativa, educação, trabalhos voluntários junto ao Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), além de outras atividades nas comunidades.



 Após se familiarizarem com o ambiente, as irmãs e demais simpatizantes, o grupo reuniu-se para o momento de mística, tendo como pano de fundo aspectos da mística e projeto de Francisco e Clara de Assis e do carisma da Irmã Catequista Franciscana. Em caminhada, houve momentos de contemplação da realidade, a partir de um varal com notícias, recortes de jornal e outros subsídios que trouxeram presente o tema dos Capítulos Geral e Provincial – o mundo em movimento e a nossa busca por relações de irmandade e itinerância. 



A reflexão teve continuidade com o aprofundamento e partilha do texto “De que Fonte você bebe”, de Pe. Alfredo Gonçalves, seguido de apresentação de imagens e reflexão do tema “Mística Francisclariana”. As Irmãs Rosali Ines Paloschi e Beatriz Maestri dinamizaram este momento.

 À pergunta Do que temos sede?, o grupo foi respondendo: de justiça, paz, saúde, política educacional. O mundo está cheio de informações, consumismo, fontes atraentes e apelativas. Onde podemos encontrar a fonte de água viva? No íntimo de nós mesmos/as; no encontro com o outro, a outra; na história de um povo; na melodia do universo - cada pessoa, planta, animal, faz parte de uma gigantesca orquestra; na fonte primordial: “Abba Pai” da espiritualidade de Jesus Cristo, Caminho, Verdade, Vida.



 Outro momento muito significativo do encontro foi animado pela simpatizante Maria de Lourdes de Oliveira que convidou a celebrar a partir de uma releitura do Gênesis.

 O Encontro, que se deu no dia 27 de maio, também teve momentos de partilha e de avaliação da caminhada deste quadriênio na PICM, além de contar com sugestões para a continuidade do Projeto de Simpatizantes, tendo em vista a proximidade do capítulo provincial.



 Um dado significativo foi a sintonia afetuosa dos grupos de simpatizantes de Minas Gerais que foram muito lembrados durante todo dia. Do Encontro micro-regional que reuniu os grupos daquela região, Irmã Beatriz trouxe terra, cartazes, imagens e balas que foram partilhados no encontro. 

 Foi muito significativo o momento em que se misturaram as terras vindas de MG, de Rodeio e das diferentes regiões de São Paulo. É uma semente preciosa que, desde a terra-mãe que a acolheu e fecundou (Rodeio), está germinando hoje em solos diferenciados, contando com a originalidade, beleza e criatividade de cada região. Ao final, cada participante recebeu uma pequena lembrança, feita por um grupo de Economia Solidária e indígenas de Osasco - SP. Na unção com óleo, cada simpatizante sentiu-se novamente enviada/o a retomar o caminho, seguindo os passos de Jesus Cristo, na perspectiva francisclariana. 

Na lembrança que receberam, e no coração, ficou gravada a saudação Paz e Bem! 

 Irmã Beatriz C. Maestri – PICM e simpatizante Maria Batista Rodrigues

Cursos da UERJ sobre Sustentabilidade

No portal de Telessaúde da UERJ  http://www.telessaude.uerj.br/site/ (um program do Governo Federal) você encontra vários cursos (gratuitos e com certificação) na área da saúde e em outras análogas. Com a aproximação do Rio +20 o curso online de Telessaúde preparou um especial sobre Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente. Clique no site no dia e hora indicados para participar. São palestras com renomados professores do Brasil, incluindo Leonardo Boff

Um bom curso a todos,

Cúpula dos Povos na Rio+20

PAZ E BEM!



 Estamos às vésperas da CÚPULA DOS POVOS (15 a 23 de junho), no Rio de Janeiro. Este evento congrega os movimentos sociais que, no mundo inteiro, têm lutado pela paz, justiça e integridade da criação. O econtro acontece paralelamente à Rio+20. Este reune a ONU, os governos de várias nações e as grandes corporações capitalistas. As propostas dos dois encontros são opostas. Economia verde (que de verde não tem nada e que, de váias formas busca mercantilizar os bens comuns (água, florestas, etc.) é o que está na pauta da Rio+20. 

A Cúpula dos Povos busca, com as vozes diferenciadas e plurais dos diferentes movimentos, luta pela justiça ambiental, pelo respeito à Mãe-Terra, respeito aos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pequenos agricultores. É uma luta que diz respeito a todo cristão que olha o mundo como um todo, com filhos de Deus podendo usufruir de forma reverente a criação. Diz respeito a nós, que nos comprometemos com a defesa da integridade da criação da qual o ser humano é parte integrante. Criação que cantamos, junto com Francisco, na Oração do Irmão Sol. 

Com este Boletim parcial a Coordenação da FFB-MG (Família Franciscana do Brasil) quer contribuir para um aprofundamento do debate sobre os temas que serão discutidos na Cúpula dos Povos. Na realidade o debate já vem ocorrendo há meses, inclusive com nossa participação como franciscanos e franciscanas no Fórum Social Temático, em Porto Alegre. 

Seguem sites com muito material









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